– A data correta: 23 de novembro de 1989.
– A hora precisa: 16:42.
– O local exato: rua Antônio de Albuquerque, numa sacada do prédio de número 1338, no segundo andar.
– A pessoa certa: uma mulher que usava uma blusa verde e vasculhava com os olhos o que se passava na rua. Alguém que não conheço, que me disse chamar-se Márcia.
– O acontecimento: eu, parado no carro, esperava um amigo que havia entrado numa loja. Esperava irritado, quando me encontrei com os olhos que percorriam a rua. Acabei escrevendo alguma bobagem sobre a pessoa que vi na sacada. Como estava muito atarefado, acabei assentando somente hoje, 6 de dezembro, para passar a limpo as coisas que escrevi naquela hora.
– O esclarecimento: é apenas um diálogo impossível entre olhos, dirigido a uma pessoa imaginária e desconhecida.
– O que buscam seus olhos?
– Aquilo que está na rua.
– Só?
– O que mais poderiam desejar eles?
– Alguma coisa…
– Esperava alguém.
– Seus braços já haviam dito.
– Braços? Braços falam?
– Olhos vêem?
– Você caçoa.
– Eu apenas vejo você em paz.
– Você não me conhece para saber…
– Nem devo.
– Ora por que?
– Corro riscos.
– Conhecer alguém?
– Não sei quem é.
– Conversa fiada, você fala demais.
– Eu? Não disse nada. Apenas fiquei olhando.
– Eu também.
– Então quem fala?
– Os olhos não falam.
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Álvaro Andrade Garcia