Publicado no caderno Magazine do jornal O Tempo 1997
Se você acabou de comprar um Pentium com kit multimídia e placa de fax modem, achando que estaria livre de mudanças no seu equipamento pelos próximos 2 anos, essa notícia não vai agradá-lo nem um pouco. Até o final deste ano está sendo lançado o Entertainment PC. Um PC turbinado para o lazer que promete tomar o lugar de honra hoje ocupado pela televisão nas horas de folga da família.
É que a tecnologia evoluiu e as empresas de informática querem sua fatia no ‘grande’ mercado doméstico. E para isso o computador tem que perder o ar de sério. A ordem é deixar os escritórios e ganhar a batalha pela sala de visitas. Não vai ser fácil para o micro, deixar de ser um instrumento apenas para o trabalho. A meta é ousada: adeus televisão, adeus telefone, adeus aparelho de som! E lá vai estar apenas ele, mais onipresente que nunca, instalado numa CPU em algum lugar da casa, com terminais espalhados em todos os cômodos, conectando a família aos mais diversos canais de lazer e informação, espalhados nos quatro cantos do mundo.
O processo de incorporação aos micros de recursos de multimídia e de funções de outros aparelhos eletrônicos vem acontecendo já faz alguns anos. Hoje, uma máquina decente sai de fábrica com fax, internet, CD ROM, placa de som, controle remoto e telas coloridas de alta resolução. Numa constante evolução, os CD ROM se tornaram mais velozes, a internet trouxe a comunicação de dados para dentro de casa, chips dedicados foram desenvolvidos para processar áudio e vídeo. Parabólicas do tamanho de pizzas já recebem sinais digitais de satélites e os games no PC se tornaram mais vibrantes com recursos 3D.
O computador se qualificou para usurpar o lugar de outros eletrodomésticos, mas antes precisa enfrentar pra valer um problema que herdou do seu passado. A sua maneira de se relacionar com os usuários – sua interface – não foi feita para o lazer, mas para o trabalho. As telas ainda são pequenas, nem todo mundo sabe usar um teclado e o mouse, o usuário fica muito próximo da tela, o que não é o adequado para se assistir filmes ou realizar tarefas em conjunto. A solução sempre é mudar, e para acelerar essa mudança e buscar padrões comuns para a indústria do entretenimento é que gigantes como a IBM, Compaq, Toshiba e Microsoft estão unidos em um ambicioso projeto: o Entertainment PC. Um computador completamente remodelado para atender às exigentes famílias da classe média planetária.
Estaremos vendo a tela principal dos Entertainment PCs com dimensões de 27 polegadas ou mais, com opção de serem planas a ponto de ser dependuradas na parede. Os computadores terão novas entradas de dados, via cabo (com o uso dos cable modems), via satélite digital (direct tv), via rede local ou através de conexões analógicas que também estarão habilitadas a receber dados. Eles virão de fábrica com o DVD, o disco ótico substituto do CD ROM, capaz de armazenar filmes em alta resolução, com trilha sonora estéreo e digital e canais som para diálogos em várias línguas simultaneamente.
O Entertainment PC estará apto para suportar a chegada da web tevê, onde, via cabo ou satélite, poderemos acessar ou receber diretamente programação de qualquer rádio ou tevê do planeta. Seu teclado não terá mais fio como hoje, se tornando móvel, teremos controles remotos sofisticados e pads – pequenos consoles de cristal líquido, sensíveis ao toque e com tela colorida – que usaremos para programar o que ver na telona central do nosso computador, ou usar como terminal de leitura de homepages no quarto, banheiro e até como agenda na rua. Terminais conectados em rede local, espalhados pela casa, no quarto dos filhos e no escritório, com os antigos mouses e teclados ainda vão existir, para as ‘tarefas do passado’, ligadas ao trabalho.
É ver para crer. E se preparar para a nova ordem no lar. Como se viu, seu Pentium poderá ainda ser uma máquina do presente, mas em volta dele uma infinidade de novos periféricos estarão disponíveis, mudando radicalmente suas características. E a rotina em casa vai mudar também. Pais e filhos terão que discutir horários para uso da telona, afinal a briga entre os filmes e games vai se acirrar. Senhas para proteção de contas secretas na internet e bloqueio injusto de canais com material impróprio serão temas comuns na hora do jantar. Garotas virtuais em 3D, como a inglesa Cindy e sua irmã-clone japonesa, estarão seduzindo interativamente os adolescentes em sexy-caraoquês. Câmeras de tevê ao vivo, conectadas em diversos locais do planeta, transmitirão cenas coloridas em pequenas janelinhas, e milhares de Você Decide, cada vez mais sofisticados, estão nos planos da indústria para o novo cotidiano da sala de visitas, ainda este ano.
Álvaro Andrade Garcia