depois de léguas e léguas de silêncio, cá estamos de volta para compartilhar uma breve suma das nossas andanças e visadas por áreas urbanas, portuárias, histórico-culturais, matas secas (as estacionais semidesciduais), matas sempre verdes (as ombrófilas), mangues, campos rupestres, matas ciliares etc.
nessa grande esticada que demos agora, passamos por são paulo – urbe doida, Paraisópolis, Cantareira, noite de luzes no centro, entrevistas – depois fomos para Santos, filmar o porto, a Serra do Mar e um pouco da história do café; seguimos viagem para São Sebastião e Ilhabela. nesta última localidade, a floresta atlântica está protegida em 80% do território. lá foi possível chegar perto de realidades atuais, como a vida dos caiçaras em comunidades mais isoladas e a polêmica sobre a ampliação do porto de São Sebastião. vale menção ao China, que apesar do apelido é um brasileiríssimo pescador com quem conversamos sobre a vida no Bonete, uma praia de Ilhabela onde moram cerca de 200 pessoas que só chegam ao centrinho com 2 horas de barco ou 4 a 5 de caminhada. tivemos a honra de curtir (e registrar) o China tocar violão pra gente, com direito à vinho e luz de velas, e um repertório variadíssimo, desde “entre tapas e beijos” até uma canção local que relata um naufrágio que aconteceu por volta de 1940 na região… também conhecemos o Joãozinho, monitor ambiental que nasceu num remanescente de quilombo no sul de Minas Gerais e mudou para Ilhabela nos idos de 70 – ele nos deu uma aula de sabedoria sobre a mata. seguindo para Peruíbe, registramos aqueles quilômetros sem fim de areia e as casas de alta renda que se encarceram em altos muros e cercas elétricas à beira-mar (trocaram a vista pelo pacotão “segurança e lazer completos”). entramos na Juréia, pela porção de Peruíbe, passeando de barco ao longo do rio Guaraú e seu mangue. e agora, Vale do Ribeira, região com o maior remanescente de Mata Atlântica do país, o menor idh de SãoPaulo – e onde se concentram comunidades quilombolas que resguardam riquezas históricas e culturais. estamos hospedados em Eldorado, cidade rodeada de bananais. ontem fomos à Ivaporunduva, um quilombo aqui perto onde entrevistamos o Bico, um jovem que nos contou um pouco da trajetória antiga e atual da comunidade, que data do século XVI…
pedido geral aos navegantes: roguem em corrente à Santa Clara para nos devolver o sol. chove. o céu está denso. e rumamos para Floripa amanhana.
às fotos:
_a vista da cantareira é essa imagem abaixo. ela dá vista para ‘a grande urbe são paulo’ a partir de seu norte. também se vê, dali, o oeste ‘con’tido – onde se ‘con’centra renda -, e o leste, que, ao contrário, se ‘dilui’ no espaço de forma impressionantemente maior que o oeste. ao sul, ao leste e norte da cidade cresce a massa. são paulo da geografia desigual, desigualdades primordiais, ocupação desordenada, e criatividades que brotam de suas matizes cinzas.
mais sampa, agora numa de suas bordas sul, uma favela quase-cidade:Paraisópolis:
e em Paraisópolis tem o Estevão, conhecidíssimo, inclusive pela imprensa internacional, como Gaudí-Brasileiro. pois este cabra mora sob um jardim suspenso, construído pelas suas próprias mãos e ideias, em meio a uma favela de quase 60 mil habitantes. maior esmagadoramente que 80% dos municípios do Brasil. a casa do Estevão é arte-pura. o cara nunca viu Gaudí e faz uma invenção tamanha no meio de onde reina o nada. é das entranhas deste entorno que o Estevão brotou!
além do Estevão, imperdível é o Berbela. inventor de motos e bicicletas alegóricas, borboletas de lata que recobrem sua oficina mecânica. a mais nova invenção de bike dele tem dvd e gps. e a gente tem o video. acho que verão logo mais. a foto já vale o show:
bom, chega de São Paulo. hora de ver os tentáculos da megalópole quando seguimos rumo a um dos grandes portos do Brasil:
além de containers e muitas coisas mais, Santos tem a lama e o caos, a favela e a verticalização indiscriminada, respectivamente. e um mangue-mata que resiste:
pra falar de uma coisa boa demais em Santos: a terceira idade. é animadíssima. liberam endorfina a contento caminhando, trotando e até correndo na beiramar.
e por falar de beiramar agradável, Ilhabela, ou a ilha de São Sebastião, foi nosso destino seguinte. incrível Mata que recobre mais de 80% do território da Ilha, onde se planeja com limites marinhos, isso a diferencia de qualquer outro parque nacional, estadual etc. que geralmente tem questões com limites de terra firme. fomos às praias Jabaquara, Bonete, Anchovas, Castelhanos, cartografando também subjetivamente essas áreas:
e atravessamos a balsa de volta, só pra fotografar a simpática e histórica São Sebastião:
enfim, começamos a entranhar pelo Estado de São Paulo, rumo ao Paraná. Para ilustrar precisamente a transição de ecossistemas, abaixo nossa passagem pelo mangue da Juréia. assim, vamos passando pelas múltiplas paisagens que compõe o bioma do mato atlântico:
estamos, agora, num momento win wenders da expedição, principalmente por causa do hotel em pleno Vale do Ribeira com nome igual à cidade:
vale um petit comentário sobre a locação acima: os mineiros presentes na expedição (que correspondem a 75% de uma equipe de 4 pessoas, a exceção é essa quem vos escreve) se lembraram da casa de baile. pampulhices reais…
só pra finalizar essa atualização mais panorâmica que-não-sei-o-que (numa tentativa de engrenar de vez), seguem umas fotos do pouco que a luz nos permitiu fazer hoje – fomos ao remanescente de quilombo Ivaporunduva (em tupi: rio que traz bons frutos), onde fizemos poucas imagens e uma entrevista bem sucinta e boa (aliás, as entrevistas valeriam um capítulo à parte. ficam pra estreia do filme…). ó: