Se nesse instante pudesse voltar os olhos para dentro, voltar o que se vê para daonde vem. Inverter a direção. Fosse possível iluminar e dar foco ao que se veria na penumbra do corpo. Agregados e pulsantes, os filetes de nervos e vasos, perfurando o crânio. Um caleidoscópio de luzes-sombra, túneis de estruturas macias. Dentro da caixa reluzente, através das frestas enfim, a visão estarrecedora da mente. Um amontoado de cores pálidas percorrendo um degradê entre o amarelado e o cinza. Uma verdadeira geléia de gordura e água, imersa em litros e litros de sangue e informação. Se fôssemos mais, na análise de cada pedaço, na busca do cheiro e gosto do cérebro. A sua consistência. Os sentidos exaustos não diriam nada. A metáfora estaria morta. O habitante ilustre não mostraria seus dentes. A verdade é uma só: estamos aparelhados para ver o que não está em nós. O pensamento fracassa, a introspeção, a hipnóse, os elementos todos que dispomos não alcançam essa força propulsora que move tudo para longe de si. A mente não esboça segredos, apenas é invisível, não ocupa lugar no espaço. É opaca a tudo isso por que não sabemos ver para daonde vemos.
Álvaro Andrade Garcia