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Ele era um homem comum só que…

Ele parecia um homem comum, nada de especial. Uma pessoa que sempre se deu bem, um pacato cidadão, com poucas ambições. A não ser as comuns a todos nós: ganhar na loteria, ter um caso com alguém importante, ser famoso. Mas ele tinha algo que o diferenciava de nós, e por isso subia tranqüilo a rua da Bahia, naquela manhã ensolarada. Sabem o quê? Controlava o tempo! Não a meteorologia, mas o tempo tempo. Ele era capaz de fazer com que as horas passassem mais rapidamente ou mesmo fazê-las parar. Podia fazê-las voar ou transformá-las em eternidade. Tanto é que ele passava pelas situações e locais sem afobação, pois podia, se quisesse, mandar o tempo dançar, tipo dois pra lá, dois pra cá. Ele voltava o tempo, passava para trás, pulava dias desagradáveis, ia ao futuro, voltava para ver a continuação do passado. E, imaginem, nunca usou desses poderes em proveito próprio. Divertia-se com pequenas alterações: manhãs chuvosas fazia passar em questão de segundos, e, tão logo aparecia o sol, saía para passear. Como naquela manhã. Situações de prova, de tristeza, passava em milissegundos, e um orgasmo que teve há mais de vinte anos, continuava tendo. Ele controlava o tempo. Outro dia mesmo queria ver a continuação de uma série de tv que terminou há dez anos, voltou e assistiu tudinho, embora em preto e branco.

Muitos perguntam por que ele não quis enriquecer com esse dom. Ele poderia, mas parece que é cauteloso, ou já sabe de algo que não sabemos, pois já viu seu futuro: já foi até lá e voltou. Inclusive é só vocês começarem a pensar no fato que lhes conto, para que comecem a suspeitar do seu futuro. Ele deve ter encontrado lá algo que não imaginamos, e que fará com que ele, nesta manhã de sol, atravesse a avenida Afonso Pena e esteja feliz com isto.

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Álvaro Andrade Garcia

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