Triângulo do Dragão, de Charles Berlitz
Editora Best Seller, 189 p
“Que mistério se esconde no Triângulo do Dragão? Que forças são responsáveis pelo número surpreendente de navios, aviões e tripulações que desaparecem em seus limites?” A princípio pensei que Charles Berlitz, o manjado escritor que lançou em outros carnavais a onda do Triângulo das Bermudas, estivesse fazendo hora com a minha cara. “Outro triângulo?”, me perguntei. Fiquei sem saber por onde começar. Voltei à capa: “mais um enigma desafia a compreensão”. Um navio tragado por um rodamoinho de grandes proporções completa a cena.
Confesso: de imediato fiquei sem saber o que fazer diante do livro. Não tinha a menor idéia do que seria. Deixei de lado a sensação de angústia e resolvi ler. Comecei gostando. No início, o autor não dá uma de dr. sabe tudo, nem devaneia em demasia, apenas nos envolve em seu jogo. Em poucas páginas nos empolga com a força atávica de uma região agitada dos mares, nas proximidades do Japão. Maremotos, vulcões, distúrbios eletromagnéticos, enigmas. Uma viagem e tanto para quem está saturado da mesmice.
Muita gente deve apreciar essa literatura moldada pelo mistério. As livrarias estão cheias de exemplos, a vida está cheia de lacunas. Faz bem ouvir toda essa história de forças naturais e sobrenaturais, sobrehumanas, desafiando a compreensão e a ciência. É bem catártico, funciona como uma espécie de vingança contra a modernidade. O problema do livro em questão, contudo, é que com o passo das páginas o autor começa repetir afirmações e extrapolar qualquer devaneio razoável. Ele não chega a tecer considerações metafísicas para fugir da ciência, nem apresenta nenhuma conclusão científica, mas se move para uma área ainda mais movediça. Escapole, preferindo ser uma espécie de almoxarife, relacionando exaustivamente datas e fatos.
A única maneira de continuar a ler, sem perder a motivação, foi imaginar uma equipe de TV interessada em fazer imagens sobre os capítulos do livro. Imaginei um repórter esbaforido e seus auxiliares, alucinados voando de lá pra cá, atrás dos devaneios do autor. Depois de apresentar seu novo triângulo, do outro lado do mundo, Berlitz lista uma infinidade de desaparecimentos aqui e ali, chegando ao cúmulo de apresentar uma lista de páginas e páginas de embarcações perdidas. No próximo capítulo é a vez das aeronaves, com transcrições de diálogos entre pilotos e torres. Outro capítulo, agora é a vez dos submarinos. Relaxamento: lendas japonesas e a seguir chinesas, sobre dragões, Kamikazes, fossas abissais. Peixes pré-históricos encontrados no mundo ao longo dos últimos anos, plesiossauros, celacantos, o monstro do lago Ness, na Escócia. Mais ação: o livro segue falando dos navios fantasmas, do Holandês Voador, OVNIs na Austrália, Nova Zelândia, Teerã. Uma relação dos grandes terremotos no Japão, piratas, vulcões, ilhas que se movem no oceano pacífico, civilizações submersas, ilha da Páscoa, catástrofes pré-históricas e testes nucleares.
Quando terminei com o livro, constatei que aprendi um pouco de meteorologia, da formação de maremotos e terremotos e fiquei na mesma. Um fim melancólico, essa é toda a verdade. Recentemente o JB anunciou a descoberta no fundo do mar, por uma equipe de pesquisas oceânicas, da famosa esquadrilha de aviões que sumiu inteira no Triângulo das Bermudas. Os aviões estavam em perfeitas condições. Talvez, ao serem içados, possam trazer alguma explicação definitiva sobre seu e outros desaparecimentos. Talvez nada de novo aconteça. O fato é que me cansei dessa enumeração infinda de fatos e fatos, sem conexões entre si. A idéia-base do livro é: tudo aquilo que é enigma pode estar envolvido com os desaparecimentos enigmáticos no Triângulo do Dragão. Tautologia? Acho que não. Essa volta em torno do próprio umbigo deve estar rendendo uns bons milhares de dólares ao Dr. Berlitz.
Álvaro Andrade Garcia e Delfim Afonso Jr.