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O Jornal da Noite,
de Arthur Hailey

Satisfação garantida

Conferindo rara verossimilhança a um sequestro nos bastidores da notícia, Arthur Hailey se aproxima do bestseller perfeito

O Jornal da Noite, de Arthur Hailey
Editora Record, 607 páginas

Crawford Sloane é o âncora de uma das maiores redes de televisão dos EUA. Quando menos se espera, sua família é sequestrada por latino-americanos. O cartel de Medellin/Sendero Luminoso, numa arriscada operação, age em território norte-americano. Sua exigência para libertar as vítimas é impossível de ser cumprida. Os amigos de Crawford na tv desconfiam da eficiência do FBI e CIA, e montam uma operação paralela para localizar e recuperar sua família.

Até aqui nada demais. Para quem conhece o ramo, essa trama é figurinha repetida. Todo livro do gênero intriga internacional tem essa espinha dorsal. A ela, repleta de ação e aventura, acrescente grandes organizações massacrando os indivíduos, rixas pessoais, algumas pitadas de sexo, e seu livro está pronto. O problema do gênero é como desencadear e apresentar os acontecimentos. Hailey merece elogios. O Jornal da Noite é um grande livro. Traz com inteligência e bom texto tudo aquilo que o leitor poderia desejar de um bestseller. Se pudesse sintetizar: excelente trama, detalhamento e ambientação da história.

Hailey trabalha O Jornal da Noite costurando uma delicada rede de acontecimentos simultâneos, entrecortados por flash backs, que fornecem ao leitor uma massa de dados com a qual pode se antecipar aos acontecimentos no livro. Esses elementos não são apresentados de forma didática ou professoral. Os recortes e tramas paralelas vão trazendo, em momentos isolados, uma série de elementos que vão precisar da inteligência e perspicácia de quem lê para se tornarem úteis na comprrensão da trama e dos personagens. Em muitos instantes o leitor tem todas as pistas que estão ao alcance dos herois, para ser utilizadas na sua luta contra os bandidos, pois foi se inteirando dos acontecimentos, com dados aparentemente aleatorios que, articulados, trazem chaves de como a história pode se encaminhar. Para seu deleite, entretanto, apesar das pistas não sabe como a história prosseguirá. O leitor nesses instantes é colocado em pé de igualdade com os personagens, já que apenas algumas das pistas que conhece serão descobertas pelos heróis, determinando uma deflagração específica no encaminhamento da história.

Nos recortes do tempo, assinalados em itálico na narrativa, Hailey monta uma série tramas secundárias, de igual interesse, onde desncadeamentos de ações chegam até o ponto em que se encontram os personagens agindo. Nesses recortes, apresenta melhor determinadas caracteristicas psicológicas dos personagens, que terão importância na trama presente do livro, trazendo subsídios para o leitor participar daquele ou deste diálogo ou ação com um conjunto substancial de dados.

Hailey mantém o leitor extremamente bem informado. Essa é sua característica. Ela chega a ter requintes perfeição em determinadas passagens do livro. Nelas, existem descrições minuciosas de como se maquilar um carro, se conseguir uma chapa fria em Nova York, um passaporte falso na Inglaterra; noções de anestesiologia, com nomes de drogas, dosagens, efeitos colaterais; instruções sobre como transferir dinheiro em dólares do Peru a Nova York, sonegar impostos; informações sobre equipamentos de navegação de aeronaves. Qualquer elemento novo que é apresentado ao leitor na narrativa é dissecado e analizado com riqueza de detalhes e ar de veracidade muito grande.

Seu melhor trabalho de detalhamento no livro é sem dúvida a ambientação. O leitor gosta de sentir que o autor domina e sabe apresentar a ele um ambiente novo, onde vai se passar a história. No O Jornal da Noite, Hailey nos desvenda o telejornalismo. Recebemos informações sobre os bastidores de algo bem cotidiano: como é feito um jornal de tv. Ele informa com detalhes como é a operação de uma grande cadeira de televisão norte americana. Descreve o funcionamento do seu departamento de jornalismo. Nos apresenta o prédio, os equipamentos, as pessoas que trabalham ali com suas rotinas e ideologias. O livro é leitura obrigatória para um estudante de jornalismo. Hailey coloca em discussão temas e máximas que deve ter colhido em suas pesquisas. Pensamentos como este: “Insen tinha uma filosofia a respeito dos milhões lá fora que assistiam ao Jornal da Noite. Para ele, o que a maioria do público de telespectadores desejava eram respostas a estas três perguntas fundamentais: O mundo está em segurança? Minha casa e minha família estão em segurança? Aconteceu alguma coisa interessante hoje? Acima de tudo, Insen tentava fazer que as notícias, a cada noite, fornecessem essas respostas.” Constatações como essa: “… – para a televisão – as imagens dramáticas deveriam ter prioridade absoluta, ficando em plano secundário as análises ponderadas e, às vezes, a própria verdade.” Não é a toa que o livro se consome em mais de seiscentas páginas. Se passam cento e cinqüenta e o sequestro ainda está acontecendo, mas em compensação, quem não conhecia nada de telejornalismo, vai estar sabendo um pouco mais.

O Jornal da Noite é um livro de mestre no gênero. Bem dosadas estão todas as características que fazem um livro alcançar o sucesso no gênero intriga internacional: ação, informação detalhamento e pesquisa, heroi contra inimigos atuais (a moda agora é fritar os latinos) e insersão da ficção na realidade. O leitor se satisfaz em saber que a ação apresentada no livro é uma hipótese plausível no mundo real: “Puxa, isso poderia ter acontecido. Alguém poderia tramar alguma coisa assim.”

E Hailey consegue. E acerta na dose. Os elementos são misturados de forma precisa e acertada. Existe muito intelectual por aí que nunca leu um livro de ação como esse. Quem se acostumou a nivelar os best-selleres e dizer que todos tem má qualidade, que se cuide. Tem gente fazendo coisa muito boa no gênero. Hailey merece morar nas Bahamas com Sheila e fazer seus milhões de dólares.

Álvaro Andrade Garcia e Delfim Afonso Jr.
8/9/1990

1 resposta em “O Jornal da Noite, <br />de Arthur Hailey”

Estou adorando este livro … eh muito interessante ..o autor realmente está de Parabéns .. Eh uma artista com uma mente brilhante.

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