Publicado no caderno Magazine do jornal O Tempo 1997
Estamos no tempo de grandes transformações na forma como a informação é armazenada e transmitida. A revolução pela qual passamos hoje é comparável ao surgimento da escrita, da impressão de livros e à descoberta da eletricidade e da fotografia, que nos trouxeram o telégrafo, o rádio, o cinema e posteriormente a televisão. Com a tecnologia da multimídia e telecomunicações, o computador se transformou num importante veículo de comunicação, e se posicionou na base da nova era pós-industrial. A chamada Sociedade da Informação já está entre nós.
Nesse momento de transição, a multimídia traz uma importante contribuição. A comunicação digital eliminou as restrições ao número máximo de emissores de informação. Vivemos numa grande rede, onde qualquer um pode emitir, qualquer um pode receber, em qualquer lugar do mundo. Há canais abertos para todos. Mas é preciso partir para a luta. Por que essa disponibilidade não é passiva, o fato de existir um canal é apenas um belo começo. É preciso produzir informação para se veicular ali, é preciso fazê-la chegar a um público que se interesse por ela, é preciso lutar para manter esses canais abertos, por que há interessados em fechá-los.
Hoje a rede oferece uma oportunidade real de desconcentração nas relações de produção-consumo cultural. Mas ao mesmo tempo serve ao poder econômico e à indústria cultural de alguns paises, que vão paulatinamente transformando-a numa grande pirâmide, onde todos vão acessar, mas poucos, lá em cima, vão produzir e dominar a transmissão da informação.
Estamos precisando de uma grande articulação que permita ações simultâneas e integradas em diversos setores. Por que a informação digital é o motor e a mercadoria do futuro e o país que ignorar esse fato vai pagar caro pela cegueira. Precisamos de uma explosão cultural, para alavancar a produção de informação brasileira e fazer com que nossa ‘balança informacional’ inverta sua situação de desequilíbrio crescente entre buscas lá fora e visitas aos nossos sites. Precisamos encorajar o surgimento de novas empresas e o uso ativo da rede por todos os setores da sociedade. Precisamos mudar hábitos, discutir conceitos novos.
Precisamos acordar para o tempo presente. Estamos na era das grandes obras de engenharia eletrônica, pois é necessário assegurar canais velozes, descongestionados, baratos e colaterais aos países em desenvolvimento. Dependendo da situação, hoje é mais rápido acessar um site nos EUA que outro na mesma cidade no Brasil, e isso não pode acontecer. No âmbito político, no que se refere às infovias, devemos estabelecer relações e investimentos baseados em nossos interesses estratégicos. Por que a coisa toda é muito simples. O tráfego da informação funciona em linhas gerais como o tráfego de automóveis. Os usuários tendem a buscar caminhos onde o tráfego é descongestionado e tendem a ir onde há mais informação relevante. Se há um estrangulamento aqui, as pessoas vão passar por ali, se não se produz aqui, vai-se até lá com grande facilidade. A engenharia e a articulação política das infovias é assunto tão relevante, que sua implantação nos EUA é missão do vice-presidente, também candidado assumido à presidência nas próximas eleições.
Por fim, é preciso ampliar o acesso da população a essa nova realidade tecnológica. Computadores nas escolas, nas ruas. Não se trata de mais um eletrodoméstico, estamos falando de um instrumento que é a base da nova sociedade que se avizinha. Na vasta belíndia chamada Brasil precisamos democratizar o acesso à rede, promovendo uma ampla popularização dos computadores multimídia e da internet, caso contrário, teremos o país ainda mais dividido, agora entre analfabetos, alfabetizados e informatizados. É preciso olhar para o futuro, num país que se acomodou ao presente. Vivemos numa época onde falar de planejamento no estado e de autonomia entre países é palavrão, mas seguramente, deixado ao rumo dos ventos, o fluxo de informações da grande rede da Sociedade da Informação tenderá a se organizar num padrão onde a concentração e a polarização em torno dos grandes países será a tônica. Por isso é preciso debater e resolver logo como vai ser nosso caminho, antes que outros paises o façam por nós.
Álvaro Andrade Garcia