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Casa da Poesia

apresentação do espaço-encontro

Disse Cortazar, a propósito da relação entre autores e leitores, detestar a admiração pelo gênio. “Que importava a Van Gogh tua admiração? O que ele queria era a tua cumplicidade, que tratasses de olhar como ele estava olhando, com olhos esfolados pelo fogo heraclitiano.” No mesmo texto, Cortazar insere a figura dos amantes por meio de Saint-Exupéry, para quem “amar não é olhar um nos olhos do outro, mas olharem ambos na mesma direção”. Então ele conclui, furioso: “e eu cuspo na cara de quem me vier dizer que ama Michelangelo ou E. E. Cummings sem me provar que pelo menos numa hora extrema desse amor foi também o outro, olhou com ele do seu próprio olhar e aprendeu a olhar como ele para a abertura infinita que espera e reclama.” Esse pensamento de Cortazar emergiu na Casa da Poesia, um espaço-evento de encontro, trocas e criação conjunta entre poetas, artistas plásticos e músicos, realizado entre os dias 21 e 28 de fevereiro de 2011 na praia da Armação, em Florianópolis (SC).

A Casa da Poesia se instaurou como uma TAZ – Zona Autônoma Temporária -, e parte do projeto Encontro das Águas, marcou o quinto encontro de poetas entre mares catarinenses e montanhas mineiras. O primeiro em dezembro de 2009 no Povoado do Bichinho, Minas Gerais, Sonia Queiroz, Ilka Boaventura e Ivan de Sá reuniram-se em torno de um eixo temático inspirador, as águas dos ribeiros, transformando a idéia em imagens e palavras que foram impressas em serigrafias e reunidas no álbum/livro Encontro da Águas, lançado nas Terças Poéticas do Palácio das Artes em Belo Horizonte em maio de 2010.

O projeto, arquitetado cinco anos antes, na Lagoa de Conceição, em Florianópolis, passou a agregar poetas como Marcelo Dolabela, Jair Fonseca, Álvaro Garcia, Mario Alex e Carlos Barroso para fazer emergir processos criativos em torno da poesia. O movimento seguinte, o terceiro, aconteceu em agosto do mesmo ano em Florianópolis, em forma de Oficina de Poesia, na Sala Machado de Assis da UFSC e Recital no Palácio Cruz e Sousa. O quarto aconteceu em Belo Horizonte no Centro Cultural da UFMG com recital e lançamento da plaquete em homenagem a Cleber Teixeira, organizada por Mario Alex .

O Encontro das Águas, a partir daí, transformou-se em Aquífero Poético – Casa da Poesia, e voltou a acontecer em fevereiro, na praia de Armação, Florianópolis. O grupo agregou artistas como Mari Leonel, Rodrigo de Haro, Pedro Pires, Marinella Goulart, Hugo Rubilar, Oscar Miletti, Sol Jara, Isabelle Quimper e Otávio Rosa.

Poetas, artistas visuais e músicos, no Aquífero Poético – Casa da Poesia, voltaram seus olhos esfolados pelo fogo heraclitiano para as águas que movem e lavam esse tempo em nosso planeta.

O papel e o meio digital fizeram do fluxo desse movimento, arte de compartilhar.

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